Hoje é diferente

São Vicente cheira a memórias e a história. Tenho sentimentos ali com os que posso sempre contar. Tenho a minha Lisboa no olhar. É com pesar que vejo o nosso povo hoje. Alguma tristeza a observar. Tenho saudades de como os meus avós falavam. Como os vizinhos eram família. De como o bairro se manifestava. Como nos cumprimentávamos. Como existia preocupação com o próximo. De como corriam as notícias. Eu era miúda, tão miúda. Os adultos da altura levavam as coisas sério. As notícias eram informação que não se duvidava. Liam jornais, informavam-se em livros nas bibliotecas. Talvez um povo fácil de enganar mas também um povo crente. Hoje é diferente. A televisão, a internet, os jornais, todos procuram atenção. Vendas e visualizações. As pessoas ficam perdidas. Escrevem alarmismos para vender, escrevem sem saber. Escrevem sem ver as consequências. Quando finalmente o alarme tocou, existe quem não queira crer. Mas pior que não crer é aquele que não consegue ver. Aquele que não sabe ler, aquele que não quer saber. Este é de verdade. Não por falecer, mas pelo próximo. Por alguém e pela disponibilidade dos recursos. Pela comunidade. Solidariedade. Hoje vemos as pessoas luz e vemos o egoísmo. Vemos pessoas que não são comunidade. Não sabem viver em sociedade. A consciência. A falta de humanidade. A minha viagem ao oriente, deu-me esperança no mundo. Fez-me ver pessoas abraço, pessoas carinho sem me conhecerem. Fez-me ver o enorme sorriso e a fé de quem pouco tem. E é assim, de sorriso que tenho sempre, sempre fé no nosso povo. Porque além de um bando de acéfalos que anda por aí, ainda existe gente luz. Ainda existe gente que entende, que procura, que faz por saber. Que faz por fazer acontecer. Que entende que vidas não se pagam. Que vidas não são brincadeira. Que se podemos salvar apenas uma vida então que seja essa. Posso ser eu, podes ser tu. Não é preciso de entender muito para saber o que faz a diferença. É preciso ter consciência. Concentra a tua energia. Faz a tua parte. Fica em casa. E o ocidente que se oriente.

de Inês Figueiredo