R.I.P. Bennie



Na verdade, nem sei bem por onde começar. A minha dor vai além de qualquer palavra, desta vez, nem escrever me alivia. É uma dor que me consome a cada momento que bloqueia qualquer coisa lógica que queira dizer de ti. Também, não é para ter lógica, é para ser sentido.
Então, vou começar assim: foste “O coelho”. Desejava um coelho orelhudo há muito tempo e tu apareceste nos braços do meu namorado, com um laçarote numa gaiola. Nem sabia os tantos cuidados que os coelhos exigiam, nem todas as suas necessidades, era tudo novo. Levou pouco tempo para me afeiçoar a ti, em pouco tempo, amava-te como hoje.
Na verdade, vou começar assim: foste “O meu amor”. Comecei a viver sozinha em Évora, longe de casa e dos meus pais, no meu pequeno T0. Adotei-te como um filho. Estava viciada em ti e comecei a ler imensas coisas de coelhos. Percebi, que não eras apenas um coelho, eras uma companhia como se fosse um cão. Todos os momentos contigo eram poucos, pensei sempre eu, talvez algo que dizia que a vida te ia tirar tão cedo de mim. Rapidamente encheste a casa de alegria. Eras um mariquinhas que não queria sair da gaiola, sempre com medo de tudo. Aos poucos foste saindo da gaiola para a cama, enroscavas-te em mim, pouco tempo e logo saías. Começaste a dar os primeiros passos pela casa e logo logo já corrias que nem um maluco. E assim foste descobrindo o mundo. Quis dar-te tudo o que conseguia. As minhas saídas à noite converteram-se em serões de mama e filhote. A minha alegria era estarmos os dois com o papa ao serão a ver-te fazer coisinhas novas e a brincar contigo. Vinhas para o sofá connosco ver televisão. Adoras coçar os tapetes e mordiscá-los. Já para não falar de tudo o que roeste em casa, deixaste as tuas marcas. Sempre que tinha o roupão, atado com o laço, lá vinhas tu para o meu colo mordisca-lo, puxá-lo, até desfazer o laço. Eras muito beijoqueiro. Um comilão e guloso do pior. Não se podia fazer crepes ou panquecas em casa, tu eras muito pedinchão. Até pipocas querias. Melhor de tudo, era gostares dos medicamentos, brufen e bactrim. Mas não gostavas de colo, o único colo a que vinhas era o meu. Entraste na adolescência e eras um verdadeiro macho-alfa. Adoravas as nossas pernas e querias fazer xixi em tudo o que era sítio. Mas o ex-líbris era ver-te a coçar o queixinho, a deixar o teu cheirinho nas coisas. Na casa da avó, adoravas o quintal, comer algumas coisas por lá. O teu sítio favorito era estar em cima da secretária a admirar o quintal pela parede de vidro, até dormias lá.
Queria que fosses a todo o lado ver o mundo e nunca te queria deixar sozinho. Já sabias o teu nome, o "não", "aqui" e a "midinhaa", leia-se comidinha, afinal era a tua palavra favorita. Sempre que chegava a casa dizia “MEU AMOR!!” e tu espetavas as orelhinhas e rapidamente estavas a roer a gaiola para sair. Adorava o final do dia, só porque sabia que ia para casa ver-te e queria aproveitar todos os segundos contigo. Fiz umas músicas e cantava para ti. Foste de férias, natal e fim de ano connosco. No natal, tiveste os teus biscoitos de prendinha e no fim de ano, na serra da estrela, também coloquei uma moedinha perto de ti para dar sorte. Ainda foste um coelho viajado por Portugal!
Foste ao veterinário várias vezes sem ter nada, porque estávamos sempre cheios de medo que te acontecesse algo. Decidi fazer a tua castração para ficares mais calminho. Ainda sofreste com dores no dia a seguir, mas recuperaste rápido! O papa ofereceu-te um bouquet de couve com salsa. Eras mesmo o nosso filhote. Ficaste mais roedor, traçavas ainda mais tudo em casa!
Infelizmente, no último fim-de-semana, adoeceste muito rapidamente e corremos contigo para o veterinário. Ficaste ainda internado dois dias. Ainda corremos de médico em médico a pedir opiniões, para te tentarem salvar. Não houve maior dor, do que estar a ver-te sofrer. Essa, foi a pior de todas. Corria o mundo se necessário, para não teres sofrimento. Mas nada houve a fazer. Partiste. E pelo menos, o teu sofrimento acabou, não merecias mais. Fiz tudo o que esteva ao meu alcance por ti e fazia mais se fosse preciso. Deixaste um vazio enorme na minha vida, mas um grande amor no meu coração. Dei-te todo o meu amor do fundo do meu coração. Foste o Bennie, o Rei! Foste e és, o Rei da minha vida. 

Bennie  Abr, 2012 - Nov, 2013










Comentários

  1. Querida Inês,
    Não te conheço pessoalmente, mas sinto que conheço uma boa parte de ti. Porque partilhamos uma história muito semelhante. A minha Tambocas chegou-me há um ano, nas mãos do meu namorado, quando eu sabia tão pouco sobre coelhinhos (um bocadinho irresponsável, talvez). Mas apaixonei-me por ela desde o primeiro minuto.
    Ao início ela era o meu bebé. Durante o dia ansiava voltar para casa para a ver. Precisava tanto de mim, era tão frágil e ainda meio perdida no mundo.
    Depois os meses foram passando, tornou-se mais marota, mais refilona. Se calhar também queria mais liberdade, mas infelizmente as nossas vidas às vezes não permitem que nos organizemos tão bem quanto eles merecem...
    Mas este ano foi um dos (o?) mais atípicos e difíceis da minha vida. Acabei o meu curso e fiquei vários meses fechada em casa, a estudar intensamente para um exame decisivo. E a Tambocas, que antes era "o meu bebé", tornou-se a minha amiga, a minha companhia de todo o dia e de todos os dias, dos momentos melhores e dos de sofrimento. Passou a andar sempre livre no meu quarto, porque eu estava sempre por perto. Adorou a liberdade. Deitou-se horas a fio ao lado dos meus pés ou no tapete a olhar para mim, vinha a correr disparada de onde estivesse só para me encher de beijinhos e pedir festinhas. Enfim, se um ano pudesse ser resumido em duas palavras, este seria "Tambocas" e "Exame".
    Hoje fiz o exame... A minha preocupação agora é como vou organizar a minha vida para que ela não sofra com a minha falta. Ela deu-me tanto amor, que tudo o que eu desejo é poder dar-lhe a felicidade que ela tanto merece daqui para a frente. As nossas vidas vão mudar, eu sei que ela vai sentir e se calhar vai ficar triste (e até zangada, que ela é menina para isso =P). Mas eu também vou sentir muito.
    Aprendi TANTO com ela, sobre coelhinhos, sobre animais, sobre pessoas, sobre amor. Percebo quando falas dos serões de mamã e filhote. A Tambocas adora festas, adora miminhos, é muito muito meiguinha, mas odeia ser agarrada e não gosta de estar ao colo. Por isso passamos horas as duas deitadas no chão, só porque gostamos de estar juntas =)
    Gostava do teu Bennie sem o conhecer, era um coelhinho redondinho e fotogénico que me fazia sempre rir nas fotos (a Tambocas odeia fotos =P é linda, mas quase nunca fica bem xD). E ainda bem que ele existiu. De certeza que cresceste muito com ele e que ele não podia ter sido mais feliz.
    Ainda não conheço essa dor que sentes agora, mas tenho a certeza que é horrível. Nem quero pensar nisso... Mas a vida é mesmo assim, efémera. Ainda bem que estes coraçõezinhos em forma de coelho nos ensinam a dar mais valor aos momentos felizes. =)
    Um beijinho para ti.
    *Margarida

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    1. Obrigada pelo texto Margarida. Gostei muito de ler e fico feliz por alguém ter assim uma ligação forte com o seu pet. O que penso, é que vale a pena dar tudo a eles e o nosso amor principalmente. Eles merecem, pelas alegrias que nos dão e é isso que fica connosco, é isso que nos dá paz de espírito. Um grande beijinho e miminhos para a tambocas!

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  2. Inês, sinto muito a partida do teu coelhinho!
    Tenho uma coelhinha há 2 anos que quando olho para ela é com tanto amor que às vezes até me chegam as lágrima aos olhos. Faço tudo por ela porque ela é a minha filha! Nunca passei por desgosto semelhante ao teu, mas imagino e nem quero pensar. Identifiquei-me a mim e à Kika no teu conto real. No que li e pesquisei sobre os coelhinhos. Também nunca pensei que os coelhos fossem tão bons amigos, tão bons companheiros como os cães ou os gatos. A Kika é muito independente, quando quer mimos sabe pedir, quando não quer foge das nossas festas. Vive solta na cozinha. Gosta de estar sempre ao pé de nós, Quando venho do trabalho, a minha mãe já lhe abriu a porta, quando chega à minha casa, e ela antes de eu vir põe-se atrás da porta à minha espera. Quando entro, salta para o sofá, eu sento-me, às vezes de casaco vestido ainda, e ela salta para o meu peito que é onde gosta de receber as festas e os mimos. Dá-me muitos beijinhos, depois salta para o sofá e lambe-me o braço, escava, olha para mim, dá dentadinhas de amor e salta para o chão! Depois deita-se ao pé de nós. Quando vamos jantar vai para a cozinha para o pé de nós! É uma grande companheira. E nunca estou só em casa, desde que a tenho. Por isso, é tão dificil quando penso na sua partida um dia, e esqueço o assunto logo no minuto seguinte. Lamento Inês, também vou ao Fórum dos Coelhos e acompanhei a partida do Bennie que está lindo, um amor nestas fotos. Mas é como dizes, eles partem, mas o amor fica! Muita Força para vocês e um grande abraço

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    1. Muito Obrigada pelas palavras Aida. Apesar de tudo, é muito bom ouvir e nunca pensei que reconfortasse tanto :) um beijinho grande e miminhos para a Kika! Tudo de bom para vocês.

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  3. Adorei o texto...até chorei um pouco pois a tua dor é real e eu sei o que sentes :( desde os meus 3/4 anos k tenho coelhos, sou completamente viciada , acho k eles sao bem mais do que as pessoas julgam deles. Em 2007 morreu no colo da minha mae a levar festinhas minhas um coelho que fazia tudo comigo, era o pikachu ou pika monster como lhe chamava, tinha 11 anos ...ainda hoje so de pensar nele me doi no coração...depois em 2011 por volta desta altura morreu o crock , pai da bubbles e uma semana depois a honey, a minha angorá rabugenta, fiz de tudo para os salvar mas nessa altura o dr rui tinha se demitido e foram tratados por outra pessoa que fez mal o diagnostico e os deixou morrer com uma conta de quase 400 euros para pagar...foi uma semana horrivel e quando vejo as suaa fotos a dor ainda é imensa. Sê forte e n deixes as boas memorias se perderem xxxxx kiss

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    1. Obrigada pelas palavras Ary :) nunca pensei ter tanta gente a apoiar-me neste momento. Se até os animais vêm ao mundo com uma missão, a missão do Bennie foi certamente mostrar-me o "mundo" dos coelhos. Afinal, não há amor como o primeiro :') beijinho.

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