Um Adeus para sempre!
"E
de repente o adeus acabou. A culpa foi do até já, do até logo e do até
amanhã e pronto algumas novas tecnologias. Já ninguém diz adeus, e
quando o dizem - os que o dizem - já não é do mesmo modo. Um adeus dos
bons tem de ser dito com dor, de preferência crónica, como quando
chorávamos em pequenos por alguma coisa que nos diziam ser má e depois
nos diziam que afinal não era nada má,
que era tudo falso, que não era preciso ter medo apenas para que
acabássemos de chorar. E o resultado é que chorávamos ainda mais. E de
facto, um adeus dos bons, dos sentidos, tem de ser uma choradeira. De
preferência para dentro. Não há nada mais comovente do que ver alguém a
tentar disfarçar que está a chorar para dentro. Para mim, é mais
comovente ainda do que chorar para fora, porque há todo um esforço do
canal lacrimal que não existe no outro. Chorar para fora está ao alcance
de todos, agora para dentro, a remoer como se fosse no estômago, isso
só está ao alcance de alguns. E o adeus também. Mas tanto lhe fizeram e
maltrataram e vulgarizaram que o único adeus decente e digno, é agora o
último. Porque só esse não é substituível por até já, até logo, até
amanhã. Porque um adeus, quando é dos últimos, é como se sabe um adeus
até sempre."
Fernando Alvim
Publicado originalmente no ionline
Fernando Alvim
Publicado originalmente no ionline
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